4. Versão 2.0

Primeiramente, uma estatística: o código do GIMP contém cerca de 230.000 linhas de código C, e a maioria dessas linhas foram reescritas na evolução de 1.2 para 2.0. Do ponto de vista do usuário, entretanto, o GIMP 2 é fundamentalmente similar ao GIMP1; as características são similares o bastante para que os usuários do GIMP 1 não se sintam perdidos. Como parte do trabalho de reestruturação, os desenvolvedores limparam o código de forma excelente. Um investimento que, embora não seja diretamente visível ao usuário, irá facilitar a manutenção e permitir que futuras expansões sejam algo menos doloroso. Desse modo, a base do código do GIMP 2 é significantemente melhor organizada e de melhor manutenção do que no caso do GIMP 1.2.

Ferramentas básicas

As ferramentas básicas do GIMP 2 não são muito diferentes das suas antecessores no GIMP 1. A ferramenta de Seleção por Cor é agora mostrada na caixa de ferramentas do GIMP, mas já estava incluída no GIMP 1 como uma opção do menu Selecionar. A ferramenta de transformação foi dividida em várias ferramentas especializadas: Rotacionar, Redimensionar, Inclinar e Perspectiva. As operações com cores agora estão associadas com camadas no menu CamadasCores, mas isso é meramente uma limpeza: elas já estavam presente no menu Imagem (algo ilógico, já que são operações que afetam as camadas). Dessa forma, não apareceram ferramentas completamente novas nessa versão, mas duas das ferramentas foram totalmente reformuladas comparadas com suas versões antigas: a ferramenta de texto e a ferramenta de vetores. Saiba mais sobre isso abaixo.

A interface de usuário para ferramentas também sofreu mudanças significativas. A caixa de diálogo de Opções de ferramenta foi modificada para não se auto-redimensionar quando uma nova ferramenta é escolhida. A maioria dos usuários sentiam que a janela se redimensionar quando uma nova ferramenta era selecionada era algo irritante. Agora, por padrão a caixa de Opções de ferramenta fica constantemente aberta e encaixada debaixo da caixa de ferramentas, onde pode ser encontrada facilmente.

Opções de ferramenta

As Opções de ferramenta de muitas ferramentas agora possuem novas possibilidades que não estavam disponíveis no GIMP 1. Sem ser cansativo, aqui estão as melhorias mais notáveis.

Todas as ferramentas de seleção agora possuem botões: Substituir, Adicionar, Subtrair e Interseção. No GIMP 1 a única maneira de alterar o modo de uma seleção era através dos botões Ctrl ou Shift, que poderiam causar muita confusão pois estes botões também tinham outras funções. Por exemplo, pressionar e segurar a tecla Shift ao usar a ferramenta de seleção retangular forçava o retângulo a ser um quadrado. Assim, para adicionar uma seleção quadrada você pode primeiramente pressionar Shift, clicar com o mouse, soltar o Shift, e então pressionar o Shift novamente, e então traçar a seleção com o mouse, e finalmente soltar o Shift. Agora a mesma coisa pode ser feita mais facilmente.

Para ferramentas de transformação, os botões agora controlam qual objeto (camada, seleção ou vetor) será afetado pela transformação. Você pode por exemplo transformar uma seleção retangular em várias quadriláteros. A transformação de vetor em particular agora funciona de forma mais fácil do que antes.

Esvanecer e Pintar usando degradê agora estão disponíveis para todas as ferramentas de desenho. Na verdade, todas as ferramentas de desenho agora possuem suas próprias configurações individuais de pincéis, degradê e paletas, diferente do GIMP 1 aonde havia uma configuração global aplicada a todas as ferramentas de desenho. Agora você pode selecionar pincéis diferentes para o lápis e o pincel, ou texturas diferentes para as ferramentas de clonagem e preenchimento. Agora você pode alterar essas configurações usando a roda de seu mouse em cima do botão do recurso desejado (isso é mais útil para selecionar um pincel fácil e rapidamente).

Interface do usuário

As mudanças mais visíveis no GIMP 2 afetam a interface do usuário. O GIMP agora usa o kit de ferramentas gráficas GTK2+ no lugar da GTK+. Uma das grandes características trazidas pelas novas bibliotecas são as janelas encaixáveis, e a navegação por abas entre janelas encaixadas nas na mesma janela de encaixe. — uma característica presente em vários navegadores populares. O GIMP 1 ficou famoso por abrir várias janelas pela tela; Já o GIMP 2 pode ser conhecido por usar janelas fixas. As janelas de diálogo agora incluem um pequeno menu de customização, o qual permite máxima flexibilidade para organizar sua área de trabalho.

A janela de imagem possui algumas novas características interessantes. Elas não são necessariamente ativadas por padrão, mas podem ser ativadas em PreferênciasInterfaceJanelas de Imagem. Exibir contorno do pincel, por exemplo, permite que você veja o contorno de um pincel ao usar as ferramentas de desenho. Na sub-seção Aparência, você pode escolher se uma barra de menus está disponível no alto da janela de imagens ou não. Você também pode marcar uma opção para trabalhar no novo modo de tela cheia. As opções de visualização também estão disponíveis em todas as janelas de imagem clicando com o botão da direita, e escolhendo a opção Visualizar. O chamado botão de imagem também está disponível ao clicar em um pequeno triângulo no canto superior esquerdo do espaço de trabalho. A configuração que você escolher nas Preferências será usada como valor padrão,e as que você escolher para uma imagem serão usadas apenas para a mesma. (Você também pode ir para o modo de tela cheia pressionando F11; a tecla ESC também sai do modo de tela cheia.

O GIMP 2 possui atalhos de teclado que dão acesso rápido ao menu. Se você acha que navegar entre menus usando seu mouse é demorado, a solução pode ser o uso do teclado. Por exemplo, se a barra de menu estiver presente, para criar uma nova imagem apenas aperte Alt+A+N. Sem a barra de menu presente, aperte Shift+F10 para abrir o menu do lado superior esquerdo, e use as teclas direcionais ou A então N para criar uma nova imagem. Teclas aceleradoras são diferentes de teclas de atalho: as aceleradoras são uteis para navegar por menus, enquanto que atalhos ativam um item de menu específico. Por exemplo, Ctrl+N é uma tecla de atalho, e o meio mais rápido de abrir uma nova imagem.

Para acessar facilmente os seus itens de menu mais usados, o GIMP traz atalhos dinâmicos há anos. Quando um menu é aberto, você pode deixar o cursor sobre o item desejado e pressionar a combinação de teclas desejadas. Essa funcionalidade ainda existe, mas está desativada por padrão no GIMP 2.0, para evitar a troca acidental de atalhos já existentes.

O GIMPtambém possui vários conjuntos de atalhos para seus menus. Se você desejar substituir os atalhos padrão do GIMP pelos do Photoshop, por exemplo, você pode mover o arquivo menurc do seu diretório de dados de usuário para oldmenurc, renomear ps-menurc para menurc e reiniciar o GIMP.

Manipulação de abas e janelas de encaixe

O GIMP 2.0 introduz um sistema de abas de janelas que lhe permitem deixar sua área de trabalho do jeito que você deseja. Quase todas os diálogos podem ser arrastadas para outras janelas e soltas para formar um conjunto de janelas de diálogo com abas.

Além disso, na parte de baixo de cada janela de encaixe, existe uma área encaixável: arraste e solte abas de janelas ali para adiciona-las à parte inferior do grupo de janelas.

Programação

Agora Python é a linguagem padrão da interface de programação externa para o GIMP 2. Isso significa que agora você pode usar as funções do GIMP através de scripts em Python, ou reciprocamente usar Python para escrever plug-ins para o GIMP. Python é relativamente fácil de entender mesmo para um iniciante, especialmente em comparação com a linguagem Scheme, que é da família do Lisp usado para Script-Fu no GIMP 1. As ligações em Python foram aumentadas com um conjunto de classes para operações comuns, para que você não seja forçado a buscar através de toda a base de dados de procedimentos do GIMP para realizar operações básicas. Além disso, a Python possui ambientes de desenvolvimento integrados e uma base de bibliotecas gigantesca e funciona não apenas em Linux, como também no Microsoft Windows no Apple Mac OS X. O maior inconveniente, para o GIMP 2.0, é que a interface de usuário padrão oferecida em Python-fu não usa todo o poder da linguagem Python. A interface é atualmente projetada para suportar scripts simples, mas desenvolver uma versão mais sofisticada é um dos nossos objetivos futuros.

O GIMP-Perl não é mais distribuído com a versão padrão do GIMP 2, mas esta disponível como um pacote em separado. Atualmente, o GIMP-Perl é suportado apenas em sistemas operacionais baseados em Unix. Isto inclui tanto uma linguagem simples de programação, e a habilidade de codificar interfaces mais polidas usando o módulo Gtk2 do Perl. A manipulação direta de pixels esta disponível através do uso do PDL.

O Script-Fu, baseado em Scheme, possui os mesmos inconvenientes que antes: não é intuitivo, difícil de usar e não tem um ambiente de desenvolvimento real. Entretanto, ele possui uma grande vantagem em comparação com o Python-fu: os scripts em Script-Fu são diretamente interpretados pelo GIMP e não requerem a instalação de nenhum software adicional. Já o Python-fu requer que você instale um pacote para a linguagem Python.

A ferramenta de texto

O grande problema com a ferramenta de texto padrão no GIMP 1 era que o texto não poderia ser modificado após ser renderizado. Se você quisesse mudar qualquer coisa do texto, tudo o você poderia fazer era desfazer e fazer novamente (isso se você fosse sortudo o bastante para ter histórico de desfazer o suficiente disponível, e então claro você poderia desfazer também qualquer outro trabalho que você tivesse feito recentemente). No GIMP 1.2 também havia um plug-in de texto dinâmico que permitia que você criasse camadas de texto especiais e mantivesse as mesmas disponíveis para edição quanto tempo desejasse, mas ele possuía muitos bugs e era de difícil uso. A segunda geração de ferramenta de texto é uma combinação melhorada da antiga ferramenta de texto e o plugin de texto dinâmico. Agora todas as opções estão disponíveis nas Opções da ferramenta: fonte, tamanho, cor do texto, margens, anti-serrilhamento, parágrafo, espaçamento. Para criar um novo item de texto, clique na imagem e um pequeno editor aparecerá. O texto aparece na imagem conforme você edita o texto (e a caixa de texto trata a tecla Enter corretamente!). Uma nova camada dedicada é criada; essa camada se redimensiona dinamicamente para fazer caber o texto que você digitar. Você pode importar texto puro de um arquivo, e você pode até mesmo fazer coisas como escrever da direita pra esquerda em árabe. Se você selecionar uma camada de texto, clicando nela, o editor se abrirá, e então você pode modificar seu texto.

A ferramenta de vetores

A segunda geração da ferramenta de vetores ganhou uma interface completamente nova. A maior diferença que você notará é que os vetores não precisam mais ser fechados. Um vetor pode ser feito de diversos segmentos de curvas desconexas. A próxima maior diferença é que agora a ferramenta de vetor possui três modos diferentes: Criação, Edição e Mover.

No modo de criação, você pode criar um vetor, adicionar nós a um vetor existente e modificar a forma da curva simplesmente arrastando as pontas da curva ou arrastando o controlador de um nó.

No modo edição, você pode adicionar nós nos segmentos de curvas, e remover nós ou segmentos, assim como alterar a forma da curva. Você também pode conectar dois componentes de vetores.

O terceiro modo, Mover, serve para, como você deve esperar, para mover componentes de vetores. Se o seu vetor possui inúmeros componentes, você pode mover cada componente de vetor separadamente. Para mover todos os componentes de uma vez, use a tecla Shift.

Existem duas novas características relacionadas à vetores no GIMP 2.0. O GIMP pode não apenas importar uma imagem em SVG em formato raster, como também pode manter vetores em SVG intactos no formato de vetores do GIMP. Isso significa que o GIMP é agora mais hábil que nunca para complementar a sua ferramenta de vetor favorita. A outra característica que fez a ferramenta de vetor muito melhor é a introdução do traçado baseado em vetores. Em versões anteriores, contornar vetores e seleções se baseava em passar um pincel ao longo de um vetor. Esse modo continua disponível, mas agora também é possível traçar uma curva precisamente, usando a biblioteca de vetores libart.

Outras melhorias

Resumo de algumas outras melhorias:

  • Higher-quality antialiasing in some places — most notably in the Text tool.

  • Os ícones e menus são personalizáveis. Você pode criar o seu próprio conjunto de ícones e aplicá-lo à caixa de ferramentas usando a opção de menu PreferênciasInterface.

  • Uma imagem pode ser salva como modelo e ser usada para criar novas imagens.

  • Existem quatro modos de combinação de camadas que estão sobrepostas em cima da outra em uma imagem: luz dura, luz suave, extrair grãos e mesclar grãos.

  • Caso exista uma seleção ativa, você pode cortar a imagem diretamente para o tamanho da seleção usando o menu imagem ImagemCortar.

  • Assim como é possível criar guias, agora também existe a função de grade no GIMP. Ela é complementar à funcionalidade de guias e torna mais fácil posicionar objetos para que se alinhem perfeitamente.

  • O diálogo de camadas agora é mais coerente, já que agora não existem mais funções escondidas que só podiam ser acessadas através de um clique com o botão direito sobre a miniatura da imagem da camada ativa. Agora você pode controlar as operações de camadas diretamente do menu da imagem: as operações relacionadas a máscara, transparência, transformação e cor de camada, estão no menu Camadas.

  • Os filtros de cores da tela agora estão disponíveis no menu da janela de imagem VisualizarFiltros para a tela. Usando eles, você pode simular diferentes valores de gama, diferentes contrastes, ou mesmo as cores como são vistas por deficientes, sem fazer qualquer alteração na sua imagem original. Na verdade isso era uma ferramenta que já existia nas versões de desenvolvimento do GIMP há muito tempo, mas nunca esteve estável o bastante para aparecer numa versão final do GIMP antes.

  • O dialogo de seleção de cor agora tem um novo modo CMYK, associado ao ícone de uma impressora.

  • As informações guardadas em tags EXIF em arquivos por câmeras digitais agora são manipuláveis no modo de leitura e escritura nos arquivos JPEG.

  • Agora animações MNG são suportadas. O formato de arquivo MNG pode ser considerado como PNG animado. Ele adiciona toda as vantagens do PNG sobre o GIF, como mais cores, 256 níveis de transparência, e talvez o mais importante, sem o impedimento de patentes. O formato é um padrão web e todos os navegadores atuais suportam o mesmo.

  • O pacote de animação do GIMP agora possui capa sobre capa, uma ferramenta de tela azul também foi adicionada, assim como suporte a áudio.

  • Um filtro de mistura de canais, anteriormente disponível na internet como um complemento, agora está disponível em FiltrosCores.